Wanderlei Silva não leva desaforo para casa, menos ainda se vier de Chael Sonnen. O falastrão americano tem o costume de provocar lutadores brasileiros, o que faz com notável facilidade, mas seu saldo com o "Cachorro Louco" não é dos melhores. O brasileiro já foi filmado duas vezes dando dura no americano. A primeira foi dentro de um carro, onde disse a ele que "respeito é bom e preserva os dentes". E a segunda, bem recente, foi em uma exposição, onde apontou o dedo na cara de Sonnen e exigiu respeito. Para o delírio dos fãs, a rivalidade vai enfim para o octógono, e com um tempero especial: os dois serão treinadores da terceira temporada do The Ultimate Fighter Brasil, no começo de 2014, antes de se enfrentarem ao fim do reality show. Wanderlei, como era de se esperar, não poupou ameaças ao desafeto em sua primeira entrevista após o anúncio oficial dos técnicos:
- Vai pagar por tudo o que falou do meu país. Ninguém falta com respeito ao meu país dessa maneira. Eu não vou te nocautear rápido. Vou bater em você por 24 minutos e vou te nocautear no final. Eu não vou para esta luta só para ganhar, vou para te dar uma surra. Vai ver o que acontece quando alguém fala mal do Brasil. E manda ele ligar para o dentista dele, porque vai precisar - disse ele, por telefone, ao Combate.com.
Wand previu tensão no convívio com Chael Sonnen no TUF Brasil 3 e
garantiu que seu comportamento polêmico em relação ao americano é 100%
real, sem exageros:
- Vai ser explosivo. Eu sou uma pessoa real. O que as pessoas veem ali é
a realidade. Às vezes falam que é marketing. Não! Sou uma pessoa que,
se eu gostar de você, você vai saber, e se eu não gostar, você vai saber
também. Na verdade ele vai ter que medir as palavras para falar comigo,
porque uma coisa que não admito é a falta de respeito. Promoção é
promoção, mas para tudo há um limite.
O ex-campeão do Pride contou ainda que Dana White, presidente do UFC,
ouviu dele a proposta de fazer o TUF Brasil 3 com brasileiros x
americanos e a está analisando. Wanderlei, por sinal, defendeu a ideia e
garantiu que é uma maneira de atrair mais o interesse do público. E
prometeu fazer parte do "melhor TUF de todos os tempos".
A seguir, veja a entrevista completa do Combate.com com Wanderlei Silva:
COMBATE.COM: Como foi essa negociação para você e o Sonnen serem técnicos do TUF Brasil 3?
WANDERLEI SILVA: Essa é uma luta que eu queria muito. E eu
estava de saco cheio de ouvir algumas pessoas dizendo: "Ah, ele não quer
lutar". Eu queria. Ele é um atleta bom e tudo mais, mas é uma luta que
eu estava aguardando há algum tempo. Aí o Dana White me ligou e
perguntou se eu queria ser técnico do TUF contra ele, e eu falei: "Sim,
mas vai ter a luta no final, né? Não é só o show, né?". Porque com o
outro cara lá (Vitor Belfort) não rolou a luta. Ele falou que teria a
luta, então eu topei.
E quando foi isso? Foi pouco antes do anúncio oficial?
Faz um pouco de tempo, não sei ao certo. Já faz algum tempo. O importante é que vai rolar a luta.
Você e o Sonnen terão de se cruzar várias vezes no TUF. Como você acha que vai ser o convívio com ele?
Vai ser explosivo. Eu sou uma pessoa real. O que as pessoas veem ali é a
realidade. Às vezes falam que é marketing. Não! Sou uma pessoa que, se
eu gostar de você, você vai saber, e se eu não gostar, você vai saber
também. Na verdade ele vai ter que medir as palavras para falar comigo,
porque uma coisa que não admito é a falta de respeito. Promoção é
promoção, mas para tudo há um limite.
A rixa entre vocês passou do ponto da promoção e virou real mesmo?
Isso é real. Quando um cara fala alguma coisa de você, ele tem que
arcar com o que fala. Para mim não tem essa de estar falando para
promover, não interessa. Ele falou coisas muito graves a meu respeito, a
respeito do meu país. E estou realmente chateado. Ele vai pagar por
tudo o que falou.
Ele (UFC) é um evento que, quando você consegue atingir um status de
fazer grandes lutas, você consegue ser reconhecido. Nesta luta, se tudo
der certo, acho que vou ganhar uma das maiores bolsas do UFC"
Wanderlei Silva
Dana White falou que você pediu participação nas vendas de pay
per view para aceitar a luta na primeira vez que ela foi cogitada. Como
foi desta vez? Você terá esse percentual?
Imagina se eu chego para você e pergunto quanto vai ganhar (risos). Na
verdade o UFC sabe quem são as estrelas. Ele é um evento que, quando
você consegue atingir um status de fazer grandes lutas, você consegue
ser reconhecido. Nesta luta, se tudo der certo, acho que vou ganhar uma
das maiores bolsas do UFC.
No encontro "amigável" que tiveram recentemente, Sonnen
reclamou de você ter ido cobrá-lo com uma câmera. Vocês quase chegaram
às vias de fato ou foi mais uma pressão e um susto em cima dele?
Eu acho que você falar atrás de uma câmera, dentro de um estúdio, sem a
pessoa estar presente, é uma coisa. Homem que é homem vai lá e fala na
cara. Eu fui lá colocar o dedo na cara dele, falar que ele realmente
falou besteira a meu respeito e que ele vai pagar por isso. Sou aquele
cara à moda antiga. Sou do tempo em que o aperto de mão vale, que o cara
honra a palavra que dá. Se um cara fala uma coisa de mim, e eu o
encontro, vou lá e falo: "Por que você falou isso de mim?". Não vou
apertar a mão do cara como se nada tivesse acontecido. Comigo não. Eu
chego lá e falo na cara. Falei na cara dele que ele vai ter o que
merece.
Como você define seu sentimento em relação ao Sonnen hoje? É ódio?
Como vou te dizer... Fui escolhido para representar o país diante de um
cara que... Ah, vamos para a próxima. Sentimento você não explica, você
sente.
O brasileiro vem de vitória por nocaute sobre Brian Stann em grande luta (Foto: Getty Images)
Você é um cara carismático e querido pelos brasileiros. Acha
que agora, mais do que nunca, vai ser o Brasil inteiro contra o Sonnen?
Eu tenho um apoio muito grande dos fãs em todo lugar onde luto. Toda
luta que faço é casa cheia. Essa daí mais do que nunca. Graças a Deus
sou amado pelo povo brasileiro. Eles veem em mim o espelho daquele cara
que vem de baixo, que lutou, batalhou honestamente e é a prova de que
qualquer um pode vencer. Acho que os brasileiros se identificam muito
comigo. Aqui no Brasil acho que tenho uma massa comigo que nenhum atleta
do mundo tem. Nesta luta não vai ser diferente.
E essa ideia sua de fazer o TUF com brasileiros x americanos. Acha que é possível? Foi falado algo nesse sentido pelo UFC?
Acho que iria se criar uma rivalidade maior, e o show ficaria mais
interessante. Teríamos atletas americanos e brasileiros vivendo na mesma
casa. O show como um todo ficaria muito mais interessante. A única
coisa ruim dessa ideia é que a gente tiraria a oportunidade de alguns
brasileiros tentarem a chance no UFC. Mas acho que a gente tem que
divulgar mais o esporte. A audiência desse show é muito importante para
nós. Temos que mostrar que temos força aqui no Brasil. Os números têm
que ser altos. Nossos dois primeiros shows já foram um sucesso, e este
tem tudo para ser realmente o maior da história. Você daria uma vida a
mais para o show. Há rivalidade, mas é uma rivalidade sadia. Seria
melhor ainda.
Já existe o sistema de seleção dos atletas (TUF), mas aí você chega lá,
não conhece o cara, tem que conhecer o cara na hora e começa a
treiná-lo. Aí você não tem aquela responsabilidade em cima do cara. Eu
gostaria que essa responsabilidade fosse dada ao técnico. Uma categoria
de 84kg, ou 93kg. O técnico vai lá e escolhe os dez que quer, aqueles
que ele acredita que podem representar os EUA. E aqui a gente escolhe os
dez brasileiros a dedo. Aí você pode ser responsabilizado, porque foi
você que escolheu, acreditou no cara. Acho que seria muito mais
interessante. Mas os lutadores são escolhidos pelo UFC. Você só conhece o
cara na hora da luta (eliminatórias para entrar na casa), aí você vai e
escolhe meio assim. Deveria ser escolhida a seleção americana contra a
seleção brasileira, e os técnicos seriam diretamente responsabilizados
pelos caras que escolheram. Isso faria a rivalidade ser muito mais
acirrada.
Mas o UFC chegou a falar em TUF Brasil x EUA? Ou falou em brasileiros somente? Ou não falou nada?
Na verdade eu tive esse ideia e mandei uma mensagem de texto para o
Dana White. Ele respondeu que iria pensar e tal. O importante é que acho
que tornaria o show muito mais interessante. Muitas vezes na seleção
feita pelo UFC, muitos caras que estão despontando aqui ficam fora. Não
sei qual o critério deles. Mas muitas vezes alguns caras que poderiam
fazer grandes combates e trazer muita audiência ficam fora. Então, acho
que a gente poderia ter uma participação maior na escolha dos atletas.
Então ná há nada confirmado quanto a isso, certo?
É. Confirmado, confirmado ainda não. Eu ofereci ao Dana, e o patrão
disse que iria pensar. Acho perfeitamente viável. Imagina só colocar dez
americanos e dez brasileiros vivendo na mesma casa. Seria muito
interessante. A gente tem que fazer um show criativo. A grande massa dá
uma olhadinha e só. Se for uma coisa um pouco mais interessante, a gente
vai prender a atenção de quem ainda não é adepto do show. É pensando em
ganhar mais os fãs. Dez brasileiros não vão ter a chance, mas fazendo
isso vamos ter um ganho maior de fãs, e no final todo mundo vai ganhar.
Acho que essa luta vai despertar aquele patriotismo nosso, aquela
coisa que o brasileiro tem de torcer pelo Brasil, que nós temos dentro
de nós. Não adianta querer puxar o nosso saco agora. A torcida
brasileira é minha.
O UFC dizia que era quase impossível botar um estrangeiro para
ser treinador do TUF Brasil, pela comunicação com os atletas e com o
público. Mas vão trazer o Sonnen para ser treinador contigo. Qual foi o
diferencial de vocês?
Acho que é a nossa rivalidade, que está sendo uma das maiores da
história do MMA. A gente está mais profissional, graças a Deus, em outro
patamar. Mas uma rivalidade dessa se torna muito interessante para o
fã. Uma rivalidade dessa atrai atenção. Acho que o UFC viu o potencial
que essa rivalidade tem de cativar a atenção do público. E vamos fazer o
melhor TUF de todos os tempos.
Os fãs podem esperar um clima tenso entre você e o Sonnen? Vai ter muita pegadinha, muito conflito?
Olha, só digo uma coisa: o bicho vai pegar. E vai ficar ruim para o
lado dele. Tudo tem limite. Promoção, essa coisa de falar e tal. Se
passar do limite comigo, aí vai ficar muito ruim para ele.
Que recado você gostaria de mandar para o Sonnen?
Vai pagar por tudo o que falou do meu país. Ninguém falta com respeito
ao meu país dessa maneira. Eu não vou te nocautear rápido. Vou bater em
você por 24 minutos e vou te nocautear no final. Eu não vou para esta
luta só para ganhar, vou para te dar uma surra. Vai ver o que acontece
quando alguém fala mal do Brasil. E manda ele ligar para o dentista
dele, porque vai precisar.
Já decidiu quem serão seus treinadores auxiliares no TUF?
Eu convidei o Rafael Cordeiro e o (Fabricio) Werdum, que são meus
titulares, mas está programado para o Werdum lutar contra o (Cain)
Velásquez no começo do ano. Mas pelo menos como convidado ele vai. Vai
passar uma semaninha. O Rafael Cordeiro não vai também, porque ele é
quem vai estar treinando o Werdum. Já convidei o André Dida, que já
aceitou. Ainda não liguei para ele, mas já que ele vai ler essa
entrevista, vou convidar o Fabio Gurgel. Eu gostaria de pegar os
melhores técnicos brasileiros. Conversei com o Dedé (Pederneiras) em Las
Vegas, ele mostrou muito interesse, mas não vai poder. Então é isso:
tem o Dida, vou falar ainda com o Gurgel, e os outros técnicos ainda vou
escolher.
O Sonnen escolheu um brasileiro, o Vinny Magalhães, para fazer
parte da equipe dele. O Vinny já tinha sido treinador auxiliar dele no
TUF 17. O que acha de o Sonnen ter um brasileiro no time?
Não adianta querer puxar o saco agora. Já era, já falou, já fez. Pode
escolher quem ele quiser. Acho que essa luta vai despertar aquele
patriotismo nosso, aquela coisa que o brasileiro tem de torcer pelo
Brasil, que nós temos dentro de nós. Não adianta querer puxar o nosso
saco agora. A torcida brasileira é minha. O Brasil ama o Silva, não
adianta.