A brasileira Cristiane Justino dos Santos, a Cris Cyborg, bateu tranquilamente os 65,91 kg exigidos para o combate desta sexta-feira, contra a holandesa Jorina Baars, pelo campeonato de muay thai Lion Fight 14, que acontece no Hard Rock Hotel e Cassino em Las Vegas, EUA. Com o semblante tranquilo, mas sério, ela protagonizou uma encarada dura contra a atual campeã do torneio e chegou ao local com seu ex-empresário e amigo, Tito Ortiz, que acompanhou de perto todos os passos da atleta. Antes da pesagem, Cris falou ao Combate.com sobre a sua relação com o peso e explicou a dificuldade em conseguir baixar de categoria e finalmente desafiar a atual campeã peso-galo do UFC, Ronda Rousey:
- Realmente as pessoas não têm muito conhecimento nessa área, elas
pensam que eu peso 65 kg e que para baixar para 61kg eu teria que perder
4kg. Elas não sabem que eu normalmente peso 75kg e tenho que passar por
um processo de perda de quase 10 kg para bater 65kg. E isso é difícil,
eu desidrato bastante, bato o peso quase morrendo. É claro que, desde
dezembro, estou mudando a minha dieta, estou fazendo um trabalho
certinho para perder músculo, porque eu peso 65kg e tenho só 4% de
gordura corporal e é difícil perder músculo. Perder gordura é fácil, o
músculo é difícil de ganhar e de perder. Para não perder a minha
explosão, que é a minha característica, eu tenho um trabalho duro por
trás, tenho que perder músculo - explica, completando:
- Se eu pesasse 75 kg e fosse gordinha, era fácil, só que com 4% de
gordura é difícil para mulher, é muito baixo. Se fosse fácil, eu já
estaria nesse peso. Até porque quanto tempo eu fiquei sem lutar por
falta de adversária na minha categoria? Já fiquei quase quatro anos
parada por causa disso, lutava uma vez no ano, ficava dois anos
parada…Mas eu vou dar o meu máximo para baixar de peso e fazer esse
duelo acontecer. Já estou fazendo dieta, já estou me regrando, e é até
por isso que estou com bastante compromissos na agenda esse ano, para
manter a cabeça focada e acredito que vai dar tudo certo.
Cyborg também falou sobre a sua preparação para o combate desta sexta, o
seu retorno para o octógono e futuro no MMA, a relação com Tito Ortiz e
revelou, ainda, que torceria por Gina Carano, caso o duelo entre ela e Ronda Rousey realmente se concretize:
- Eu acho que ia ser bom para mim independente de quem ganhasse. Se a
Gina ganhasse, seria bom porque teria a revanche, se a Ronda ganhar, os
fãs vão pedir mais ainda pelo duelo comigo. Eu vou tentar ser imparcial,
mas eu torceria pela Gina, apesar de ela estar em desvantagem. É fácil
para a Ronda falar: ‘Eu vou subir de peso para lutar contra a fulana que
não luta há 4 anos’. A Gina lutou pela última vez em 2005 e a Ronda
está aí lutando direto, mas vamos ver.
Confira a entrevista na íntegra:
Combate.com: É a segunda vez que vc está lutando por esse
campeonato Lion Fight. O que te motivou a buscar esse tipo de desafio
neste momento da sua carreira?
Cris Cyborg: "Eu gosto de competir e acredito que sempre evoluo como
atleta quando estou competindo.É lógico que o MMA é o principal para
mim, mas cada modalidade que eu faço separada me ajuda a evoluir. Fora
isso, a adrenalina é a mesma, independente de ser uma luta de MMA ou
muay thai. É claro que as regras são diferentes, a preparação física é
diferente, pois não tem a parte de chão, mas os sparrings são fortes da
mesma forma. Muay thai é uma modalidade difícil porque tem muito mais
contato, tem muito chute e bloqueio, mas eu gosto porque me faz crescer.
Eu treinei wrestling, jiu-jitsu, só falta agora lutar boxe. Está nos
meus planos, quem sabe?"
Você tem um cartel de 2-0 no muay thai. A sua adversária, a
Jorina, tem um cartel de 25 vitórias, nenhuma derrota e 3 empates. Como é
para você já disputar o cinturão dessa modalidade com apenas duas lutas
e contra uma adversária desse calibre?
Toda vez que eu vou competir em outra modalidade sem ser a que eu tenho
mais experiência é um risco. Mas eu acho que isso é bom para mim,
porque, quanto maior é o desafio, maior é o crescimento. Eu sempre
respeitei todas as minhas adversárias, sempre treinei muito, nunca lutei
no susto. É claro que a vitória é consequência e eu só quero fazer uma
boa luta. Eu respeito a Jorina como atleta, ela já está há bastante
tempo no muay thai e no kickboxing, mas dentro do ringue eu vou tentar
buscar o meu espaço, dar o meu máximo e buscar a vitória. Eu quero fazer
uma boa luta, uma boa apresentação e o que vir depois disso é
consequência.
Você não luta MMA desde julho do ano passado. Falou-se em um
retorno seu para o octógono em maio contra a Ediane Gomes, a Índia, pelo
Invicta. Isso está confirmado?
Sim está confirmado, vai ser em maio mesmo contra a Índia. Infelizmente
vai ser um duelo de brasileiras, mas o esporte é assim, não tem muitas
mulheres. Eu acho que vai ser uma boa luta, a Índia é uma grande
lutadora, boa de chão, vem para a trocação também. Espero que ela esteja
preparada para que façamos um bom espetáculo.
E esse duelo vai ser o último nos 65,9 kg? Você vai mesmo descer para os pesos-galos (61,36 kg) depois desse duelo?
Não, não digo que vai ser a última, eu vou defender meu cinturão. Eu
vou descer para 61,36 kg para tentar fazer a luta contra a Ronda, mas eu
vou continuar sendo campeã na divisão de cima, ou não sei como vai ser
feito isso…o meu foco por enquanto é defender o cinturão, eu só desceria
de peso para tentar fazer a luta contra a Ronda, já que ela só sobe de
categoria se for lutar contra a Gina Carano, comigo não.
Falando em Ronda Rousey, o que achou desses rumores de um possível duelo entre ela e Gina Carano?
A primeira vez que fiquei sabendo desses rumores eu perguntei: ‘Vai ser
em que peso?’, porque a Gina tem problema para bater os 65 kg também.
Ela é grande, pesada e eu pensei na hora que ela não conseguiria bater
os 61,kg e que essa luta tivesse que ser nos 65,9 kg ou no catchweight.
Aí, depois, veio a declaração da Ronda. Mas isso não me surpreendeu,
porque desde o começo, desde a primeira vez, ela corre de mim, então ela
subir de categoria para lutar com a Gina e falar que só a Gina, ela
mesma está se entregando, ela sabe que não é capaz. Eu, se tiver um
desafio, luto no peso que tiver que bater, se for fácil. O que é para
ela subir 2,27 kg sendo que ela anda por aí pesando 72 kg para lutar
judô? Tudo tem uma desculpa. Mas não me surpreendeu. Se essa luta
acontecer, eu acho legal a Gina voltar a lutar, porque ela é uma das
estrelas do MMA, ficou um tempo afastada, mas se ela achar interessante
voltar porque é bom para o MMA feminino, eu estou torcendo para que
aconteça. Meu objetivo nunca foi desrespeitar ninguém e sim fazer o
esporte crescer e fazer o meu melhor dentro do octógono, mostrar que as
mulheres são capazes.
Se ela voltar e vencer a Ronda, você ainda teria interesse em enfrentar a Ronda no futuro?
Eu não escolho luta, quem me colocarem para lutar, eu enfrento. Já não
tenho adversária, se eu começar a escolher, vou ficar sem lutar. O meu
objetivo é lutar, é minha vida, é o que eu amo fazer, seja contra a
Ronda, contra a Gina ou quem tiver para lutar. Eu acho que ia ser bom
para mim independente de quem ganhasse. Se a Gina ganhasse, seria bom
porque teria a revanche, se a Ronda ganhar, os fãs vão pedir mais ainda
pelo duelo comigo. Eu vou tentar ser imparcial, mas eu torceria pela
Gina, apesar de ela estar em desvantagem. É fácil para a Ronda falar:
‘Eu vou subir de peso para lutar contra a fulana que não luta há 4
anos’. A Gina lutou pela última vez em 2005 e a Ronda está aí lutando
direto, mas vamos ver.
Você e a Gina mantiveram contato depois da luta entre vocês?
Não…eu nunca mais falei com ela. Até encontrei um professor dela há um
tempo atrás, até mandei um alô para ela, mas é que depois disso ela
passou a fazer filmes e tal. Mas eu não tenho nada contra a Gina, ela é
uma grande atleta, começou no muay thai também, lutou na Tailândia, tem
um histórico de atleta e, quando eu lutei contra ela, ela sempre mostrou
muito respeito, classe, independente de ser adversária. Eu tiro o
chapéu para ela.
Foi difícil se preparar para esse desafio do Lion Fight em meio
a tudo o que aconteceu nos últimos meses? Houve toda aquela questão dos
comentários do Dana, a saída do Tito Ortiz e do George Prajin como seus
empresários…O que mudou na sua vida desde então?
Na verdade eu sempre morei em San Diego, sempre treinei na Arena,
continuei treinando lá quando comecei a trabalhar com o Tito. Ele deixou
de ser meu empresário, mas a gente continua amigo e até treina juntos
de vez em quando. Ele está me apoiando no duelo de sexta. É claro que eu
fiquei chateada com tudo o que aconteceu, mas tudo é aprendizado, o
fato de ele deixar de ser meu empresário para não deixar a relação com o
Dana me afetar foi algo muito importante para mim, foi uma atitude que
eu respeitei muito. Na verdade, eu nunca achei que seria necessário
chegar a esse ponto, mas eu tento olhar para tudo o que acontece, mesmo
para as críticas, de uma forma positiva, tento buscar o lado bom das
coisas. Eu continuei focada, treinando, o tempo não para e a gente tem
que continuar trabalhando independente dos obstáculos que aparecem. A
gente tem que pular esses obstáculos e ir conforme a correnteza,
contornando as pedras e seguir sempre em frente.
Você se arrepende de alguma coisa ou da forma como a sua ida para o UFC foi negociada naquela época?
Não, não me arrependo de nada. Acho que tudo o que eu faço eu tento
fazer com consciência e acredito que tudo o que aconteceu tinha que
acontecer. Falo isso até do doping. Foi ruim, muita gente ficou contra
mim, passei um perrengue, mas acho que eu nunca passei nenhuma
dificuldade mesmo na minha carreira. Deus sempre me abençoou em tudo o
que eu fiz. Mesmo se eu quisesse entrar em um campeonato de bola de
gude, eu sempre saía com uma medalha, então eu acho que sempre fui
abençoada. Tudo o que aconteceu foi mais um aprendizado para que eu
crescesse como atleta, amadurecesse e eu acredito que tudo tem uma
razão. A gente erra e tem que aprender com cada erro, porque sempre vai
haver uma consequência.
A Shannon Knapp, presidente do Invicta FC, declarou em algumas
entrevistas que têm chovido propostas de novos empresários para você
desde a saída do Tito Ortiz. É verdade?
É verdade. Todo mundo começou a me ligar, a mandar mensagem. E, por
enquanto, eu não estou com cabeça para lidar com isso, não estou atrás
de empresário. Todos os meus compromissos desse ano já estão fechados,
então não vai mudar nada se eu pegar outro empresário. Eu tenho umas
agências que fecham patrocínio para mim, tenho o meu advogado que me
ajuda com algumas ações, enfim, não quero pensar em outro empresário. Eu
quero um tempo para focar e treinar e o que tiver que acontecer vai
acontecer, não preciso acelerar nada. Às vezes eu fico chateada porque
quando eu estava lá atrás ninguém apareceu né, e agora todo mundo acha
que eu estou na boca do gol, apesar de eu achar que ainda falta chão
para tudo ainda, aparecem vários interessados em me empresariar. Mas
estou tranquila, focada nessa luta de sexta, vou esperar e decidir com
calma.
Só para explicar para o público, você luta na divisão de 65,9
kg e a Ronda Rousey na de 61,36 kg. O público leigo não entende como é
difícil perder essa diferença de 4,54 kg, ainda mais para uma lutadora
do sexo feminino. Como é a sua relação com o peso e você pode explicar
como funciona quando você precisa bater peso?
Realmente as pessoas não têm muito conhecimento nessa área, elas pensam
que eu peso 65 kg e que para baixar para 61kg eu teria que perder 4kg.
Elas não sabem que eu normalmente peso 75kg e tenho que passar por um
processo de perda de quase 10 kg para bater o peso. E isso é difícil, eu
desidrato bastante, bato o peso quase morrendo. É claro que, desde
dezembro, estou mudando a minha dieta, estou fazendo um trabalho
certinho para perder músculo, porque eu peso 65kg e tenho só 4% de
gordura corporal e é difícil perder músculo. Perder gordura é fácil, o
músculo é difícil de ganhar e de perder. Para não perder a minha
explosão, que é a minha característica, eu tenho um trabalho duro por
trás. Se eu pesasse 75 kg e fosse gordinha, era fácil, só que com 4% de
gordura é difícil para mulher, é muito baixo. Se fosse fácil, eu já
estaria nesse peso. Até porque quanto tempo eu fiquei sem lutar por
falta de adversária na minha categoria? Já fiquei quase quatro anos
parada por causa disso, lutava uma vez no ano, ficava dois anos
parada…Mas eu vou dar o meu máximo, já estou fazendo dieta, já estou me
regrando, e é até por isso que estou com bastante compromissos na agenda
esse ano, para manter a cabeça focada e acredito que vai dar tudo
certo.
Você recebeu algum contato do UFC desde que divulgou aquele
comunicado? Porque o Dana White tinha dito em uma coletiva de imprensa
que você teria que começar por baixo na divisão dos galos, que você não
chegaria desafiando a campeã...
Não recebi nenhum contato do UFC, só vi o que saiu na mídia. Não tem
problema, todo desafio para mim é bem vindo. Eu já tinha pensado nisso, é
por isso que a primeira luta nos 61 kg seria no Invicta FC, até para
ver como eu vou me sentir. Eu sei que não preciso provar nada para
ninguém, onde eu deveria estar, onde estou, eu acho que os meus fãs
sabem. Mas com certeza eu quero primeiro estrear no Invicta, que é a
minha casa, para depois ver o que eu faço.
Você tinha dito que desafiaria a Ronda Rousey em dezembro, caso você conquiste o cinturão peso galo do Invicta…
Se ela não se aposentar até lá, porque ela está correndo, vai que ela se aposenta....
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