No próximo dia 11 de abril, Alan Omer vai entrar no octógono na
primeira luta do card preliminar do UFC: Minotauro x Nelson, e vai se
tornar o primeiro lutador iraquiano a atuar pela organização. Omer,
todavia, passou apenas pouco mais de três anos de sua vida no Curdistão
iraquiano, região do Iraque onde nasceu e cresceu. Em 1992, sua família
foi forçada a fugir do país por conta da Guerra do Golfo. Seu pai era um
médico no exército iraquiano, postado na fronteira com o Kuwait, e toda
sua infantaria desertou quando a guerra foi declarada. O ditador Saddam
Hussein não gostou nada da "traição" e sentenciou todos à morte.
Aí começou a jornada de Alan Omer e sua família. Eles passaram pela
Síria, Jordânia e Iêmen, países também envolvidos em guerras civis e
bombardeios.
- Tenho algumas memórias, não muitas. Quando eu saí, a guerra tinha
acabado, mas estava tudo destruído, todas as sanções, não tinha muita
comida. Todos os problemas causados pela guerra, eu vi tudo. Quando
saímos do Iraque, eu tinha 2 ou 3 anos, fomos para o Iêmen por três
anos, e a mesma coisa estava acontecendo lá. Houve uma guerra civil
enquanto estávamos lá. Vi muitas guerras. Eu sempre cresci vendo
militares, brigas... Vi muitas brigas quando tinha 2 ou 3 anos. Vi a
guerra civil dos curdos, via jatos militares voando sobre nossas cabeças
e bombardeando a cerca de um ou dois quilômetros de nós. Vi tudo isso.
Mas... Você se acostuma com isso. Você precisa, senão não sobrevive. Nos
acostumamos a isso - afirmou Omer ao Combate.com.
Sua vida mudou quando sua família seguiu para a Alemanha, quando tinha seis anos de idade.
- Houve muita gente que fugiu do Iraque para a Alemanha. Era como um
paraíso, uma grande diferença para o Oriente Médio. Quando chegamos, não
tínhamos uma grande situação financeira, mas tínhamos segurança.
Seu pai ficou impedido de trabalhar como médico por causa da burocracia
para se obter as licenças para atuar na área na Alemanha, mas a família
recebeu ajuda financeira do governo para se manter no país. Por isso,
mesmo após seu pai retornar ao Curdistão iraquiano há dois anos, Omer se
sente primeiro como um representante alemão. Da mesma forma, não sente
que tem uma responsabilidade de "melhorar" a imagem dos iraquianos
perante o mundo.
- Primeiro, represento a Alemanha, porque a Alemanha me ajudou com
tantas coisas. Minha vida inteira foi na Alemanha. Mas também represento
o Curdistão, a região do Curdistão do Iraque. Não penso que tenho uma
responsabilidade. Apenas penso em como estou me comportando. Não sou
responsável por 200 milhões de pessoas. Não posso mudar a mente das
pessoas daqui do Oeste sobre como pensam. Falo de mim e só de um grupo
pequeno. Não me sinto responsável por isso - explicou.
Apesar da "herança" de guerra, a luta chegou até Alan Omer por
acidente. Alguns amigos o convenceram a ir à academia para treinar e
logo o peso-pena estava apaixonado pelas artes marciais.
- Nos primeiros dois anos, eu não sabia o que MMA era. Eu só sabia o
que estava fazendo ali, mas não sabia que existia um UFC, um Pride,
lutas televisionadas e que dava para ganhar dinheiro com isso. Eu estava
apenas treinando e lutando e, depois disso, percebi isso. A cena na
Alemanha não era muito grande.
Uma vez que descobriu, engatou numa carreira de sucesso. Em 21 lutas,
venceu 18, incluindo nove das últimas 10. Ele tem seis vitórias por
nocaute, 10 por finalização e apenas duas por pontos.
- Eu não tenho medo de lutar. Sou um lutador agressivo. Não entro para
ganhar por pontos, ou para usar uma estratégia para não me machucar, ou
fazer uma luta segura. Eu entro e luto. É isso que me torna um bom
lutador, não tenho medo de andar pra frente e buscar a luta.
Agora, ele espera que sua participação no evento ajude a tornar o MMA
mais popular tanto na Alemanha, quanto no Iraque, aonde voltou nos
últimos anos para visitar o pai e a família.
- Após assinar com o UFC, muitas pessoas (do Iraque) me mandaram
e-mails, me procuraram no Facebook, e escrevi de volta. Eles estão bem
cientes disso. Eles gostam, começaram a gostar. É só o começo. No
Oriente Médio, eles conhecem MMA há talvez dois ou três anos, mas está
crescendo a cada dia. As pessoas lá adoram esportes de combate, estão
conhecendo aos poucos e acredito que o Oriente Médio será um dos maiores
mercados do MMA - garantiu.
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