No dia do aniversário de oito anos da conquista do cinturão do UFC, onde derrotou Rich Franklin, o ex-campeão Anderson Silva concedeu a primeira coletiva de imprensa após o anúncio de que voltaria a lutar no UFC 183, no dia 31 de janeiro, em Las Vegas (EUA), contra o americano Nick Diaz. O principal assunto foi a recuperação da perna fraturada na revanche conra Chris Weidman, e o Spider revelou que teve de superar até uma depressão por conta da lesão. O evento foi realizado no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
- Foram os piores meses da minha vida. Quando caiu a ficha, achei que minha carreira tinha acabado. Passaram milhares de coisas pela minha cabeça. Tem gente que diz que depressão é coisa de boiola, mas fiquei em depressão, fiquei mal. Talvez eu não voltaria se não tivesse o apoio das pessoas que tenho. Isso fez com que eu tivesse forças para continuar e voltar.
A coletiva também contou com a participação do treinador de jiu-jítsu Ricardo de la Riva, o preparador físico Rogério Camões, o médico Márcio Tannure e o treinador de boxe Luiz Dórea - a presidente do UFC no Brasil, Grace Tourinho, atuou na mediação. Mas o centro das atenções, claro, foi Anderson Silva. Ele mostrou confiança ao afirmar que voltará a chutar como antes:
- Os treinos estão sendo legais, porque estou conseguindo executar os movimentos que eu fazia no começo. Logo depois da lesão, eu não tinha força na perna, perdi essa força, o que é normal. Mas agora estou fazendo um trabalho específico para recuperar a força, e a cada dia que passa eu estou conseguindo chutar sem medo, e estou me recuperando bem. No dia da luta vou estar chutando 100%.
Confira as declarações de Anderson Silva na coletiva:
Momento que mais marcou a carreira
- O momento que mais me marcou foi quando eu cheguei em casa (após a segunda luta contra Chris Weidman). Não podia pegar avião pela pressão na perna. Quando desci do ônibus que o UFC disponibilizou para eu voltar para casa, estavam lá meus filhos, e o Joãozinho estava me esperando e disse que estava tudo bem, que eles me amam. Foi o mais marcante. Não esperava que ia chegar com a perna quebrada e encontrar a minha família naquela situação.
Carreira de ator
- Nesses dias falei uma coisa e interpretaram de forma errada. Estou trabalhando isso. Sempre quis fazer desde garoto. Sempre achei que era o Homem Aranha. Minhas brincadeiras sempre foram assim, imitando pessoas. Já tomei bronca por imitar o Rogerão na academia. Minha próxima imitação será o De la Riva e já tomei uma escovada dele hoje. Essa coisa de ser ator sempre esteve comigo. Estou estudando. Estou correndo atrás, participando de filmes em Los Angeles e quero fazer tão bem como faço dentro da luta.
Retorno contra Nick Diaz
- A perna está legal. Doutor Tannure brinca, diz que posso chutar e que não tenho problema, que ela não quebra mais. Aí brinco dizendo que na dúvida eu vou chutar da cintura pra cima. Mas acho que não terei vantagem. É continuar focado e agora com menos pressão. Não tenho a pressão de sete, oito anos vencendo. A luta com Diaz é boa, ele vai estar na mesma condição que a minha, um tempo sem lutar
Projeto de fazer luta de boxe
- A luta de boxe, o Dana tirou o doce da minha boca. Não podemos mais falar. Agora é MMA. O Nick Diaz é especialista em jiu-jítsu também, troca bem e vou treinar pra fazer uma luta bonita. Espero uma volta boa, que a gente consiga a vitória
Provocação de Nick Diaz sobre seu boxe
- Acho que Diaz tem a opinião dele. Expressou a opinião, temos que respeitar. Estou com o Dórea há muito tempo
Chegada de Ricardo de la Riva para afiar seu jiu-jítsu
- Trouxemos o De la Riva porque caio muito por baixo e me sinto seguro. Agora tenho o maior cara de guarda do jiu-jítsu. Ele veio me ajudar com algumas coisas pra melhorar minha defesa de chão por baixo
Quer ou não quer o cinturão?
- Não mudei de ideia não. Na minha equipe temos o Jacaré. Na Black House tem o Lyoto, o Kalil, que está chegando e tem todas as armas pra disputar o cinturão. Passei por essa fase e tenho que respeitar. Jacaré está se destacando, tem meu apoio pra lutar pelo cinturão e estou no UFC também. Essa fase já passei. Ele está trabalhando pra que isso aconteça. Não tenho a pretensão agora. Tenho que me credenciar novamente pra disputar de novo. Pra deixar claro, temos atletas no time se destacando. Nada mais justo que eu, que já passei por tudo isso, dar essa oportunidade e deixar quem quer fazer isso, fazer com propriedade. Nada mais justo que deixar o Jacaré fazer isso.
Pedidos da família para que se aposente
- Não está muito legal não. A manifestação continua, estão pedindo "Para! Para! Para!". Brincadeira. Eles entendem que é algo que amo fazer. Volto porque acho que deixei algo escapar durante a trajetória nas últimas lutas. Estou em busca disso de novo. É isso que busco. Estou muito focado e estão entendendo isso
Possível trilogia com Chris Weidman
- Nunca falei dos meus adversários, nem de quem gostaria de enfrentar. Desde meu início. Aprendi na minha academia que você se credencia a chegar onde deseja, mas nunca desafia ninguém. É um esporte, mas acho que, como atleta do UFC, as coisas vão acontecer. Se me credenciar, vou lutar. Não lutaria é com o Jacaré, amigo, irmão, sei o quanto trabalha e quer isso. Se credenciou pra isso. Se tiver que lutar com Weidman vou lutar, luta é luta, mas não vou desafiar ninguém. As pessoas me perguntam quem eu quero lutar e me acham arrogante com a resposta que dou. Eu digo que gostaria de lutar com meu clone justamente pra não ter polêmica.
Entrar com o rapper DMX na próxima luta
- Seria uma honra. Sou fã do DMX, adoro as músicas dele, não as bobagens que faz particularmente. Sou fã do som, é talentoso, acabou se perdendo no caminho, mas seria legal, uma coisa inédita, o cara entrando e cantando minha música. Ai meu Deus, pernas tremendo, vocês não sabem como fico. Seria legal.
Contrato com o UFC
- Pretendo fazer todas as minhas lutas, e o Dana já falou: antes das sete lutas, pra você não fugir, a gente renova o contrato de novo. Falei que tudo bem, ele que manda.
Chris Weidman x Vitor Belfort
- Minha opinião sobre o Vitor é que, de todos da divisão até 84kg, é o mais completo. Mais explosivo, melhor boxe, bom jiu-jítsu e wrestling. Weidman é novo, geração nova e está com todo o gás. Vai ser uma luta que todos vão querer ver. Vou torcer para que Vitor vença, óbvio. Quando o título estava comigo, sempre disse que era nosso. Estando no Brasil, está tudo certo. Quando têm dois brasileiros disputando o cinturão é porque somos muito bons no que fazemos. Vou torcer para o Vitor sem demagogia, sem nada. Fiquei sete anos com todo mundo querendo me pegar. Teve uma hora que não deu mais, mas tudo bem.
Jeito provocador de Nick Diaz
- Sou supertranquilo. Apesar do esporte ser radical, pra muita gente ser um esporte violento, acho que meu trabalho não tem nada a ver com a personalidade. Mas não gosto de ser desrespeitado. Se ele me desrespeitar, as coisas vão acontecer do jeito que tem que acontecer.
José Aldo x Chad Mendes
- Zé Aldo (vai ganhar) com certeza. Vou torcer, é amigo e grande atleta. Não sei se estarei lá porque tenho meus compromissos, mas gostaria muito.
Estímulo para seguir lutando
- O que me estimula a lutar é o desejo que sempre tive dentro de mim de estar lutando. Depois que tive a lesão, aprendi a dar valor pra coisas que tinha abandonado. Deixei pra trás. Isso me mudou bastante. Estou mais maduro, zen, então fico mais xarope, chato. Estou feliz de fazer isso de novo, porque achava que não voltaria. Estou treinando muito mais, mais empolgado pra treinar. Os mestres têm que me segurar nos treinos. Quero correr todo dia, porque não podia correr e tinha vontade. Minha maior motivação é voltar a fazer o que sempre quis.
Quer ouvir gritos de "o campeão voltou"?
- Acho que por tudo que fiz pelo esporte, não só pelo esporte, mas pelo nosso país, acho que as pessoas podem gritar que o campeão voltou. Em todo país que fui lutar, representei meu país e elevando ao topo. Sempre lutei por mim, porque amo, mas pelo meu país, tentando fazer com que todo lugar que fui, entendessem que nosso país tem uma trajetória, história e tradição no esporte criado pela família Gracie.
Perdas de cinturão do Brasil
- É natural. Vou dar um exemplo: o Japão alguns anos atrás, antes do Zico, não tinha tradição no futebol. Depois que o Zico foi, vimos outro time de futebol no Japão. Como no MMA. Nós brasileiros deixamos de lado algumas coisas e olhamos muito pra outras. Esquecemos da evolução. É importante. Falo até por mim mesmo. Nas últimas duas lutas deveria ter evoluído mais e não acompanhei essa evolução. Por isso trouxe o De la Riva, o Dórea, Rogerão está sempre procurando evoluir, Distak com a equipe da X-Gym, pra ver onde temos que melhorar.
Humildade
- Acho que (fiquei mais humilde) sim. Respondo algumas coisas de forma diferente às vezes porque sinto maldade. Aí não sou humilde. Mas de modo geral, eu sou humilde. Escuto as pessoas. O mais importante é tentarmos entender o quanto você pode ser melhor no dia seguinte. Isso que aprendi. Sendo humilde, foi isso que ficou distanciado de mim um tempo. Estou buscando de novo.
TUF Brasil
- Acho o TUF sensacional. Tem que mudar algumas coisas que não são legais. Você coloca um monte de atleta e algumas coisas na casa não são legais e não passam a imagem real dos atletas. Vi neguinho jogando comida, destruindo coisa. Eu não tinha o que comer no começo. Isso não é legal. Já disse que não gostaria de participar por isso. Perde um pouco a busca daqueles atletas. Se quando eu tivesse começado, tivesse oportuniade de participar do TUF, já tinha me aposentado há muito tempo. Eu participaria, mas não nas condições de agora. Gostaria de ver o Rogério Minotouro como treinador na próxima edição. Contra quem? Acho que Rogério e Shogun.
Michael Page, que vem sendo chamado de "Anderson Silva inglês"
- Ele é muito bom. Sério. Mas tenho três Andersons em casa, só que ninguém quer lutar.
Ronda Rousey
- A Ronda é um fenômeno. O que tem de diferença dela e dos americanos é o lastro de competição olímpica que eles têm. O atleta olímpico tem dentro dele o instinto de competição maior que o dos outros. É uma coisa que os americanos têm muito. A Ronda não é diferente. Você vê ela vencer por esse instinto, evolução técnica muito recente na vida dela. É o fator principal pra estarmos atrás.
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