Os fãs mais assíduos do Pride FC vivem relembrando com certo saudosismo
as lutas históricas promovidas pela competição japonesa entre 1997 e
2006, mas para Wanderlei Silva,
que já foi considerado o rei do torneio, o campeonato já foi há muito
tempo superado pelo UFC como maior evento de MMA do mundo.
- Hoje em dia o UFC já superou o Pride em termos de números e
visibilidade mundial, porque o esporte se tornou mais popular. Na época
do Pride, as lutas eram mais esporádicas, havia um evento a cada dois
meses. Hoje em dia não. Hoje nós temos evento praticamente toda semana, é
como se fosse aquele jogo de futebol que você tem todo domingo. -
declarou ele em conversa com a equipe do Combate.com na sede da Wand Fight Team, em Las Vegas, EUA.
Nas paredes da academia, recortes de jornais, revistas, troféus e
certificados narram parte das 35 vitórias da carreira de Wand. E ele
sabe, melhor do que ninguém, como o esporte evoluiu ao longo das duas
últimas décadas:
- Antigamente era mais complicado. A gente ía dar entrevista e ouvia
brincadeira sem graça, não tinha tanto espaço na mídia e as pessoas não
respeitavam o esporte porque ninguém conhecia direito. O MMA não era um
esporte mundial, ele era febre no Japão e talvez fosse um evento muito à
frente do tempo para o resto do mundo, porque o público precisou de um
período de adaptação para passar a gostar disso. Ontem mesmo eu estava
vendo o documentário de 20 anos do UFC e eles falam lá que perderam 50
milhões de dólares quando estavam iniciando no evento. Eu mesmo já teria
desistido antes de chegar aos 48 milhões, é que o Dana White e os
irmãos Fertitta foram persistentes (risos) - completa.
O “Cachorro Louco” ainda relembrou a sua estreia no UFC e momentos
marcantes de sua carreira e dos 20 anos da organização. Confira o
bate-papo na íntegra:
Como foi a sua primeira luta no UFC? O que você lembra daquele dia?
A minha primeira luta foi no UFC Brasil, em São Paulo, em 1998 e sim,
foi contra o Vitor Belfort. Naquela época a gente não via a luta do
nosso adversário, não tinha tanta troca de informação. É como se você
fosse lutar contra o Toquinho e entrasse no octógono sem saber que o
principal golpe dele é a chave de perna. A estrutura também era muito
diferente. Em termos de público, era muito similar aos eventos que a
gente vê no Brasil hoje, para 5 mil pessoas, o que é um público bom. Mas
em termos de estrutura…eu lembro que o vestiário nessa luta tinha muita
gente e nós tivemos que improvisar e fazer o aquecimento no banheiro.
Não tinha essa visibilidade e o profissionalismo de hoje, sem falar que
atualmente tem muito mais gente lutando e o atleta pode brilhar rápido.
Se ele conseguir duas, três vitórias boas, ele já consegue ter uma
chance ao título. Naquela época era mais difícil.
Você chegou a assistir ao UFC 1?
Claro! Mas eu vi depois, porque na época não tinha TV a cabo. Um amigo
levou a gravação do evento em fita para a academia onde eu treinava Muay
Thai. Era bem na época em que nós começamos a treinar jiu-jítsu
justamente para poder entrar no vale-tudo, no MMA.
Como fã, qual foi o momento mais especial desses 20 anos do UFC?
Como fã, o momento mais especial foi a luta do Royce Gracie contra o
Ken Shamrock. E eu falo isso principalmente pela diferença de tamanho
entre eles. Um cara pequenininho como o Royce pegando o Shamrock que era
grandão e a porrada rolando solta sem regras, sem luva, sem nada.
Aquela luta me inspirou muito ao longo da minha carreira, porque eu
cheguei a fazer dez lutas na “mão-seca” também, eu peguei essa última
fase do MMA de lutar sem luva. E as pessoas pensam que não, mas usar
luva faz muita diferença!
Quem você considera o melhor lutador de todos os tempos?
Eu acho que o Royce. Ele foi "o cara" não só pela bravura dele, mas
também por estar iniciando um negócio novo e por lutar naquelas
condições. Se eu fosse escolher só um, eu acho que seria o Royce. Mas eu
também tenho o Anderson Silva nessa lista e todos os campeões do UFC,
cada um com a sua parte. Mesmo o Tito Ortiz, que teve um papel
importante no UFC. Ele teve as desavenças com o patrão, mas ele
levantou muito o evento.
Você foi o "Rei do Pride”. Acha que o UFC já superou o evento como melhor torneio de MMA do mundo?
Sim. Hoje em dia o UFC já superou o Pride em termos de números e
visibilidade mundial, porque o esporte se tornou mais popular. Na época
do Pride, as lutas eram mais esporádicas, havia um evento a cada dois
meses. Hoje em dia não! Hoje nós temos evento praticamente toda semana, é
como se fosse aquele jogo de futebol que você tem todo domingo.
Mesmo em termos de público e torcida? Tem muita gente que ainda afirma que a torcida do Pride era mais fanática...
Eu não acho não. Eu não posso reclamar do meu público, estou
satisfeitíssimo (risos). Acho que, muitas vezes, a reação do público é
uma reação ao combate. Se o cara fica segurando o outro ali na grade
durante os cinco rounds complica, né? Tem lutas aí que a torcida só
falta se jogar dentro do octógono. Se eu estou assistindo uma luta
amarrada eu fico com vontade de entrar lá e resolver (risos). Mas, por
outro lado, há também lutas muito boas acontecendo, que acendem a
torcida, como essa do Diego Sanchez e do Gilbert Melendez em Houston,
foi uma porradaria! Essa foi sensacional! Mas, enfim…antigamente era
mais complicado. A gente ía dar entrevista e ouvia brincadeira sem
graça, não tinha tanto espaço na mídia e as pessoas não respeitavam o
esporte porque ninguém conhecia direito. O MMA não era um esporte
mundial, ele era febre no Japão e talvez fosse um evento muito à frente
do tempo para o resto do mundo, porque o público precisou de um período
de adaptação para passar a gostar disso. Ontem mesmo eu estava vendo o
documentário de 20 anos do UFC e eles falam lá que perderam 50 milhões
de dólares quando estavam iniciando no evento. Eu mesmo já teria
desistido antes de chegar aos 48 milhões, é que o Dana White e os irmãos
Fertitta foram persistentes (risos).
Qual foi o momento mais importante da sua carreira nesses 20 anos do UFC?
A minha reestreia no UFC, quando eu enfrentei o Chuck Liddell, no UFC
79, em dezembro de 2007. Foi uma luta que aconteceu aqui em Vegas e
lotou o Mandalay Bay. Os ingressos se esgotaram dois meses antes do
evento. Fora isso, foi uma luta que até hoje é considerada a segunda
melhor da história do UFC. Foi um momento especial porque eu entrei no
evento pela porta da frente e essa sensação do dever cumprido é
fantástico. E outro momento especial foi a minha última luta, que marcou
o meu retorno ao Japão com a minha marca personalizada: um belo
nocaute. Foi uma luta aberta, franca, o que deixa o duelo mais
emocionante.
Wanderlei Silva lembra dos melhores momentos da carreira no UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)
Depois de tanto tempo no esporte, ainda consegue buscar inspiração na nova geração para continuar competindo?
Claro! Me inspiro muito no José Aldo e no Renan Barão, que são os
nossos campeões. Também gosto muito do Lyoto. Eu já era fã dele, mas
depois da atitude dele nessa luta contra o Mark Muñoz eu fiquei mais
ainda. Ele acertou o chute no Muñoz, derrubou, foi para finalizar com
um soco e segurou. Ele teve um autocontrole e uma frieza muito grande
para esperar. Eu, no lugar dele, tinha dado o soco para garantir,
porque o Muñoz é muito duro. Imagina se você não finaliza ali e ele
agarra a sua perna ou coisa assim? Mas ele segurou o soco. Aquilo é o
cúmulo do autocontrole da pessoa. Aquilo ali eu achei uma coisa
espetacular.
Se arrepende de algo na sua carreira?
Se eu fosse fazer alguma coisa diferente, eu acho que eu me protegeria
mais nos treinos de antigamente. Eu apanhei muito! O sistema para
aprender a arte marcial antigamente era outro, né? Eu era o mais novo na
academia e apanhava do Rafael Cordeiro, do Nilson, do Pelé e do
Anderson Silva - apesar de que o Anderson me bateu pouco, porque ele
veio depois. Eu era meio gordinho e não tinha caneleira, luva, treinava
sem nada e apanhei muito para aprender. Mas eu me acostumei a apanhar.
Depois comecei a fazer musculação e a ficar forte, ai eu comecei a me
defender. Mas isso me preparou para o futuro, porque eu fiquei conhecido
por ser agressivo, ir para a trocação e aguentar porrada. Por um lado,
apanhar duro me lapidou!.
Sem comentários:
Enviar um comentário