Em 2012, Ronda Rousey escreveu definitivamente o seu nome no MMA feminino ao se tornar a primeira mulher contratada pelo UFC e a primeira campeã da história da organização. Em 2013, ela continuou escrevendo essa história ao realizar a sua primeira defesa de cinturão contra Liz Carmouche, em fevereiro, e protagonizar, ao lado da arquirrival Miesha Tate, uma edição do reality show The Ultimate Fighter nos EUA como treinadora, na primeira vez em que o programa também teve lutadoras femininas disputando uma vaga no UFC.
Hoje, aos 26 anos de idade, Ronda sabe que já conquistou muito mais do
que a maioria das mulheres que sonham um dia viver do esporte. A paixão
pelas artes marciais foi uma herança da mãe, a também lutadora Ann Maria
Rousey DeMars, que foi a primeira americana a vencer um campeonato
mundial de judô, em 1984.
- Eu iniciei a minha carreira no judô meio que tentando seguir os
passos da minha mãe, que sempre foi uma inspiração muito grande na minha
vida. Aos 17 anos de idade, me tornei a atleta mais nova das Olimpíadas
de Atenas. Depois fui medalha de ouro, prata e bronze nos Jogos
Pan-Americanos de Judô de 2004, 2005 e 2006, e medalha de ouro no
Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007. Aí eu fiquei em segundo lugar
no Campeonato Mundial de Judô no mesmo ano e consegui a medalha de
bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Resumidamente foi isso –
relembra a lutadora em entrevista ao Combate.com.
Quando decidiu sair do judô, a agora campeã peso-galo do UFC passou por
um momento de incertezas em sua carreira e quase seguiu um caminho bem
diferente do MMA.
- Depois das Olimpíadas, eu não tinha uma motivação verdadeira. Eu não
estava na universidade, não tinha nenhum trabalho e eu tinha vontade de
trabalhar na guarda costeira realizando resgates em alto mar. Sabe
quando o seu barco quebra ou naufraga e você precisa de alguém para te
socorrer? Eu seria a pessoa que iria no helicóptero e pularia em alto
mar, nadaria até você e faria o seu resgate. Esse era o trabalho que eu
queria – revela.
A medalhista olímpica conta que chegou até a participar de um treinamento para saber se era isso mesmo que queria:
- Os membros da guarda costeira foram muito legais e me levaram para a
base deles em San Pedro e me mostraram onde os helicópteros ficavam.
Eles até tentaram me colocar em um helicóptero, mas o chefe deles disse
que cidadãos não podiam participar do treinamento. Então eles me
colocaram dentro de um barco e me levaram para o mar e passaram a jogar
cestas na água, pular para fora do barco e enfim… Isso parecia realmente
um trabalho muito legal, mas a única coisa ruim é que eles são
militares, então você tem que se mudar a cada quatro anos. Eu tinha
passado tanto tempo lutando judô e morando longe de casa, que eu não
queria me mudar novamente. Eu queria achar um jeito de ficar em casa e
aí eu então pensei: “Quer saber, vou dar uma chance ao MMA. Se não der
certo, aí eu volto para a guarda costeira”. E, aparentemente, minha
carreira no MMA deu certo, né? (risos).
Início no MMA e paixão por Fedor Emelianenko
O início na carreira não foi dos mais fáceis e a ex-judoca confessa que
passou por muitos momentos difíceis para conseguir fazer a transição
para as artes marciais mistas:
- Quando você passa a ser eficiente em um esporte, é muito difícil
admitir a sua ignorância e começar desde o início em outra área. Eu tive
que me permitir muitas coisas, como, por exemplo, me sentir ridícula.
Eu lembro a primeira vez que eu fui para uma academia para treinar
trocação, eu me senti como uma pessoa completamente estúpida, não sabia
socar e fiquei meses treinando até passar a me sentir menos
desconfortável. Eu acho que é por isso que muitos lutadores têm
dificuldades para fazer essa transição para o MMA, porque eles não estão
acostumados a serem o peixe fora d’água.
Ronda fez a sua primeira luta como amadora em agosto de 2010 e, desde
então, buscou inspiração no lutador russo Fedor Emelianenko, que foi
campeão do extinto Pride de 2003 a 2006, chegando a acumular 28 vitórias
seguidas e sendo, até hoje, considerado o melhor peso-pesado de todos
os tempos.
- O único lutador no qual eu sempre me inspirei na vida foi Fedor
Emelianenko. Ele me deixou maluca porque foi o primeiro vídeo de
melhores momentos que eu assisti na vida e eu nunca tinha visto nada
parecido. Eu amei o estilo dele, como ele veio de uma base de judô
misturada com sambo. Até hoje eu ainda sou completamente apaixonada pelo
Fedor e, infelizmente, ele é um dos poucos lutadores que eu nunca
conheci. Fedor tem sido uma grande inspiração, pois eu sempre tento
imitar o seu estilo, dentro do possível em uma luta. Eu gostaria de
conseguir imitar o estilo dele nas entrevistas também, porque aí eu
teria muito menos trabalho, mas infelizmente isso eu não consegui ainda -
brinca, lembrando o jeito "seco" do russo de responder aos repórteres.
Outra inspiração constante na vida da campeã é a própria mãe.
- Eu tentei muito, ainda tento me inspirar no estilo da minha mãe. Na
verdade, tentei ainda chegar mais perto do nível dela, pois isso, por si
só, já seria uma grande conquista. Ela já fez tanto e continua fazendo
tanto pelo esporte, que fica praticamente impossível concretizar esse
objetivo. E, de uma certa forma, isso é bom, pois eu aprendi nas
Olimpíadas que os objetivos que você quer conquistar, eles realmente não
fazem nada por você depois que você os concretiza. Então, eu prefiro
colocar os meus objetivos tão lá em cima, que vou passar muito tempo
tentando concretizá-los. Isso ajuda a manter o foco e a lembrar sempre
de onde você veio e para onde quer ir. Mas minha mãe é mais velha do que
eu, então ela tem muita vantagem, porque começou muito antes. Então eu
não sei se um dia eu vou conseguir alcançá-la (risos).
Carreira no cinema e objetivos futuros
Apaixonada por desafios, Rousey teve a oportunidade de experimentar uma
nova carreira em 2013. Convidada para integrar o elenco de “Os
Mercenários 3” e “Velozes e Furiosos 7”, ela se dividiu entre as
filmagens que ocorreram na Bulgária e em Atlanta, enquanto treinava e se
preparava para o duelo deste sábado contra Miesha Tate, na sua segunda
defesa do cinturão peso-galo feminino do UFC.
- Foi muito complicado fazer o camp de treinamento e filmar ao mesmo
tempo, mas eu queria que essa luta fosse um desafio mais difícil do que a
primeira, porque eu já venci a Miesha e já sou dona do cinturão do UFC.
E foi justamente por isso que aceitei esse desafio, porque gosto quando
as pessoas duvidam da minha capacidade de fazer as coisas, isso me
motiva. Mas, falando das filmagens, posso dizer que, quando eu me
aposentar, talvez eu possa seguir carreira nessa área de cinema e tudo
vai parecer muito mais fácil se comparado a essa primeira experiência. É
muito trabalho e muitas coisas que eu fiz ou tentei fazer foram
completamente surreais. Eu nunca tinha feito cinema antes e foi
fisicamente cansativo e desafiador. Não era apenas ficar ali em pé
maquiada e arrumada decorando textos. Eu tive algumas cenas físicas e
fiz coisas que pessoas que já tinham mais experiência do que eu disseram
que eu era louca por me arriscar - conta, revelando que não teve medo
de gravar as cenas de perseguições ou explosões.
- Eu mandei para o Dana White uma foto de quando estávamos filmando uma
explosão na qual eu me machucava e voava pelo ar e ele ficou maluco,
começou a me mandar mensagens do tipo: "O que é isso? O que você está
fazendo? Enlouqueceu?”. E eu tive que acalmá-lo, dizendo para ele não se
preocupar, porque não eram rochas de verdade, eram pedaços de isopor
que pareciam muito, mas muito reais (risos). Ele me fez prometer não
fazer nada muito perigoso, mas tinham algumas cenas nas quais eles
tinham dublês, mas que eu queria fazer sem dublê, só que não podia fazer
porque eu tinha essa luta. Em compensação, fiz todo mundo me prometer
que vou poder fazer essas cenas no próximo filme sem dublê. Eu não tenho
medo de cair, e as cenas pareciam tão divertidas!
Sobre os planos para o futuro, Ronda afirma que pretende continuar
tocando as duas carreiras em paralelo - pelo menos por enquanto:
- Primeiro eu preciso vencer essa luta contra a Miesha, esse é o meu
objetivo número um. O número dois é vencer a próxima luta. O terceiro é,
provavelmente, fazer mais filmes e o número quatro é vencer mais
algumas lutas (risos).
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