sábado, 28 de dezembro de 2013

Ronda quase desistiu do MMA para trabalhar com resgate em alto mar

Ronda Rousey coletiva UFC Las Vegas (Foto: Evelyn Rodrigues)

Em 2012, Ronda Rousey escreveu definitivamente o seu nome no MMA feminino ao se tornar a primeira mulher contratada pelo UFC e a primeira campeã da história da organização. Em 2013, ela continuou escrevendo essa história ao realizar a sua primeira defesa de cinturão contra Liz Carmouche, em fevereiro, e protagonizar, ao lado da arquirrival Miesha Tate, uma edição do reality show The Ultimate Fighter nos EUA como treinadora, na primeira vez em que o programa também teve lutadoras femininas disputando uma vaga no UFC.

Hoje, aos 26 anos de idade, Ronda sabe que já conquistou muito mais do que a maioria das mulheres que sonham um dia viver do esporte. A paixão pelas artes marciais foi uma herança da mãe, a também lutadora Ann Maria Rousey DeMars, que foi a primeira americana a vencer um campeonato mundial de judô, em 1984.
- Eu iniciei a minha carreira no judô meio que tentando seguir os passos da minha mãe, que sempre foi uma inspiração muito grande na minha vida. Aos 17 anos de idade, me tornei a atleta mais nova das Olimpíadas de Atenas. Depois fui medalha de ouro, prata e bronze nos Jogos Pan-Americanos de Judô de 2004, 2005 e 2006, e medalha de ouro no Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007. Aí eu fiquei em segundo lugar no Campeonato Mundial de Judô no mesmo ano e consegui a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Resumidamente foi isso – relembra a lutadora em entrevista ao Combate.com.

Quando decidiu sair do judô, a agora campeã peso-galo do UFC passou por um momento de incertezas em sua carreira e quase seguiu um caminho bem diferente do MMA.

- Depois das Olimpíadas, eu não tinha uma motivação verdadeira. Eu não estava na universidade, não tinha nenhum trabalho e eu tinha vontade de trabalhar na guarda costeira realizando resgates em alto mar. Sabe quando o seu barco quebra ou naufraga e você precisa de alguém para te socorrer? Eu seria a pessoa que iria no helicóptero e pularia em alto mar,  nadaria até você e faria o seu resgate. Esse era o trabalho que eu queria – revela.

A medalhista olímpica conta que chegou até a participar de um treinamento para saber se era isso mesmo que queria:

- Os membros da guarda costeira foram muito legais e me levaram para a base deles em San Pedro e me mostraram onde os helicópteros ficavam. Eles até tentaram me colocar em um helicóptero, mas o chefe deles disse que cidadãos não podiam participar do treinamento. Então eles me colocaram dentro de um barco e me levaram para o mar e passaram a jogar cestas na água, pular para fora do barco e enfim… Isso parecia realmente um trabalho muito legal, mas a única coisa ruim é que eles são militares, então você tem que se mudar a cada quatro anos. Eu tinha passado tanto tempo lutando judô e morando longe de casa, que eu não queria me mudar novamente. Eu queria achar um jeito de ficar em casa e aí eu então pensei: “Quer saber, vou dar uma chance ao MMA. Se não der certo, aí eu volto para a guarda costeira”. E, aparentemente, minha carreira no MMA deu certo, né? (risos).

Início no MMA e paixão por Fedor Emelianenko

O início na carreira não foi dos mais fáceis e a ex-judoca confessa que passou por muitos momentos difíceis para conseguir fazer a transição para as artes marciais mistas:

- Quando você passa a ser eficiente em um esporte, é muito difícil admitir a sua ignorância e começar desde o início em outra área. Eu tive que me permitir muitas coisas, como, por exemplo, me sentir ridícula. Eu lembro a primeira vez que eu fui para uma academia para treinar trocação, eu me senti como uma pessoa completamente estúpida, não sabia socar e fiquei meses treinando até passar a me sentir menos desconfortável. Eu acho que é por isso que muitos lutadores têm dificuldades para fazer essa transição para o MMA, porque eles não estão acostumados a serem o peixe fora d’água.

Ronda fez a sua primeira luta como amadora em agosto de 2010 e, desde então, buscou inspiração no lutador russo Fedor Emelianenko, que foi campeão do extinto Pride de 2003 a 2006, chegando a acumular 28 vitórias seguidas e sendo, até hoje, considerado o melhor peso-pesado de todos os tempos.

- O único lutador no qual eu sempre me inspirei na vida foi Fedor Emelianenko. Ele me deixou maluca porque foi o primeiro vídeo de melhores momentos que eu assisti na vida e eu nunca tinha visto nada parecido. Eu amei o estilo dele, como ele veio de uma base de judô misturada com sambo. Até hoje eu ainda sou completamente apaixonada pelo Fedor e, infelizmente, ele é um dos poucos lutadores que eu nunca conheci. Fedor tem sido uma grande inspiração, pois eu sempre tento imitar o seu estilo, dentro do possível em uma luta. Eu gostaria de conseguir imitar o estilo dele nas entrevistas também, porque aí eu teria muito menos trabalho, mas infelizmente isso eu não consegui ainda - brinca, lembrando o jeito "seco" do russo de responder aos repórteres.

Outra inspiração constante na vida da campeã é a própria mãe.

- Eu tentei muito, ainda tento me inspirar no estilo da minha mãe. Na verdade, tentei ainda chegar mais perto do nível dela, pois isso, por si só, já seria uma grande conquista. Ela já fez tanto e continua fazendo tanto pelo esporte, que fica praticamente impossível concretizar esse objetivo. E, de uma certa forma, isso é bom, pois eu aprendi nas Olimpíadas que os objetivos que você quer conquistar, eles realmente não fazem nada por você depois que você os concretiza. Então, eu prefiro colocar os meus objetivos tão lá em cima, que vou passar muito tempo tentando concretizá-los. Isso ajuda a manter o foco e a lembrar sempre de onde você veio e para onde quer ir. Mas minha mãe é mais velha do que eu, então ela tem muita vantagem, porque começou muito antes. Então eu não sei se um dia eu vou conseguir alcançá-la (risos).

Carreira no cinema e objetivos futuros

Apaixonada por desafios, Rousey teve a oportunidade de experimentar uma nova carreira em 2013. Convidada para integrar o elenco de “Os Mercenários 3” e “Velozes e Furiosos 7”, ela se dividiu entre as filmagens que ocorreram na Bulgária e em Atlanta, enquanto treinava e se preparava para o duelo deste sábado contra Miesha Tate, na sua segunda defesa do cinturão peso-galo feminino do UFC.

- Foi muito complicado fazer o camp de treinamento e filmar ao mesmo tempo, mas eu queria que essa luta fosse um desafio mais difícil do que a primeira, porque eu já venci a Miesha e já sou dona do cinturão do UFC. E foi justamente por isso que aceitei esse desafio, porque gosto quando as pessoas duvidam da minha capacidade de fazer as coisas, isso me motiva. Mas, falando das filmagens, posso dizer que, quando eu me aposentar, talvez eu possa seguir carreira nessa área de cinema e tudo vai parecer muito mais fácil se comparado a essa primeira experiência. É muito trabalho e muitas coisas que eu fiz ou tentei fazer foram completamente surreais. Eu nunca tinha feito cinema antes e foi fisicamente cansativo e desafiador. Não era apenas ficar ali em pé maquiada e arrumada decorando textos. Eu tive algumas cenas físicas e fiz coisas que pessoas que já tinham mais experiência do que eu disseram que eu era louca por me arriscar - conta, revelando que não teve medo de gravar as cenas de perseguições ou explosões.

- Eu mandei para o Dana White uma foto de quando estávamos filmando uma explosão na qual eu me machucava e voava pelo ar e ele ficou maluco, começou a me mandar mensagens do tipo: "O que é isso? O que você está fazendo? Enlouqueceu?”. E eu tive que acalmá-lo, dizendo para ele não se preocupar, porque não eram rochas de verdade, eram pedaços de isopor que pareciam muito, mas muito reais (risos). Ele me fez prometer não fazer nada muito perigoso, mas tinham algumas cenas nas quais eles tinham dublês, mas que eu queria fazer sem dublê, só que não podia fazer porque eu tinha essa luta. Em compensação, fiz todo mundo me prometer que vou poder fazer essas cenas no próximo filme sem dublê. Eu não tenho medo de cair, e as cenas pareciam tão divertidas!

Sobre os planos para o futuro, Ronda afirma que pretende continuar tocando as duas carreiras em paralelo - pelo menos por enquanto:

- Primeiro eu preciso vencer essa luta contra a Miesha, esse é o meu objetivo número um. O número dois é vencer a próxima luta. O terceiro é, provavelmente, fazer mais filmes  e o número quatro é vencer mais algumas lutas (risos).

Sem comentários:

Enviar um comentário