Habilidade, agressividade e preparo físico em dia são características
obrigatórias para ser um lutador de alto nível hoje em dia. Para fazer
21 lutas de forma invicta, sendo já cinco no UFC, é necessário ter algo
mais. Pensamos que o diferencial era o sambô, mas o peso-leve russo
Khabib Nurmagomedov foi além ao contar a receita do seu sucesso: os
treinos de wrestling com ursos, como dá para ver em um vídeo que circula
pela internet da época em que tinha apenas 9 anos e que até agora ainda
tinha uma pontinha de mistério.
- Sim, era eu. Era um vídeo secreto e eu não sei como isso foi parar na
internet. Aquilo foi há muito tempo, eu quase não me lembro, eu era um
menino na época - confirmou o atleta de 25 anos, por meio de um
tradutor, em entrevista ao Combate.com.
A frieza russa fica com Nurmagomedov somente dentro do octógono. Fora,
ele brinca, distribui sorrisos e vende sua imagem da maneira como acha
válida: provocando. Numa dessas, arrumou um problemão com o pessoal de
quimono ao dizer que "se sambô fosse fácil, se chamaria jiu-jítsu". Seu
adversário deste sábado em Orlando (EUA), Rafael dos Anjos, usou isso
como motivação, inclusive. Para provar que tratava-se apenas de uma
brincadeira, ele posou para fotos segurando uma camisa da arte suave.
- Eu nunca quis desrespeitar ninguém e muito menos o jiu-jítsu. Eu
treino jiu-jítsu todo dia e é um dos esportes fundamentais dentro do
MMA. Um lutador que não conhece jiu-jítsu não pode lutar MMA. Aquilo foi
uma brincadeira para chamar a atenção - declarou.
Esse "estilo Chael Sonnen" é defendido por Nurmagomedov, mas com
ressalvas: ele diz que gosta do falastrão, porém só seria fã mesmo caso
ele fosse um lutador melhor. Na sua caminhada rumo à disputa de
cinturão, o russo publicou uma montagem do rosto de Rafael dos Anjos
estampado na marca de um chocolate de nome parecido, com os dizeres
"sabor: jiu-jítsu". Para Khabib, quem não é visto não é lembrado:
- Não se trata apenas de um esporte e sim de um showbusiness, e você
tem que fazer essa parte de entretenimento porque assim as pessoas
passam a te reconhecer e a saber quem você é. Há muitos lutadores no UFC
que são bons, mas que as pessoas não conhecem porque eles não têm uma
marca ou um estilo.
Na papo com a reportagem, Khabib Nurmagomedov falou ainda sobre ser
treinado pelo pai, a possibilidade de ser o primeiro russo campeão do
UFC, o duelo entre Anthony Pettis e Gilbert Melendez, marcado para o fim
do ano, e revelou ser fã de futebol, da Seleção Brasileira e de
Cristiano Ronaldo. A seguir, veja a entrevista na íntegra:
COMBATE.COM: Pouco tempo atrás, caiu um vídeo na internet de um
garoto russo treinando wrestling com um urso. Disseram que era você. É
verdade?
KHABIB NURMAGOMEDOV: Sim, era eu.
Era um vídeo secreto e eu não sei como isso foi parar na internet.
Aquilo foi há muito tempo, eu quase não me lembro, eu era um menino na
época.
O que você espera desta luta contra o Rafael dos Anjos? Muita
gente tem dito que o vencedor pode ser o próximo da fila ao cinturão.
Você concorda?
Eu concordo. Acho que o vencedor desse duelo deveria disputar o
cinturão, pois tanto eu quanto o Rafael teremos seis vitórias seguidas
no UFC. Acho que seria justo se um de nós disputasse o título na
sequência.
Antes desta luta ser anunciada, Rafael foi escalado para
enfrentar o Khabilov, mas se confundiu e aceitou o duelo achando que se
tratava de você. O que achou disso?
Isso sempre acontece, é normal. Somos dois lutadores russos e o meu
primeiro nome e o último nome dele são meio parecidos. As pessoas sempre
confundem. Mas o Rafael, no fim das contas, vai acabar enfrentando o
lutador que ele gostaria.
Você fez uma montagem com o rosto do Rafael numa foto de
chocolate, e ele disse que você era bom em Photoshop e poderia até
seguir outra carreira se quisesse…
Não se trata apenas de um esporte e sim de um showbusiness, e você tem
que fazer essa parte de entretenimento porque assim as pessoas passam a
te reconhecer e a saber quem você é. Há muitos lutadores no UFC que são
bons, mas que as pessoas não conhecem porque eles não têm uma marca ou
um estilo. Todo mundo me conhece pelo meu chapéu russo ou pelas
camisetas. É o meu jeito de me promover.
Então podemos dizer que você gosta do Chael Sonnen?
Sim, ele é um cara legal, mas se ele fosse um lutador melhor eu seria fã dele.
Muita gente no Brasil não gostou daquela camiseta que comparava
que dizia que "se sambô fosse fácil, se chamaria jiu-jítsu". O que você
acha disso?
Eu nunca quis desrespeitar ninguém e muito menos o jiu-jítsu. Eu treino
jiu-jítsu todo dia e é um dos esportes fundamentais dentro do MMA. Um
lutador que não conhece jiu-jítsu não pode lutar MMA. Aquilo foi uma
brincadeira para chamar a atenção. Na minha família, meu pai me ensinou
desde pequeno que você tem que respeitar todas as pessoas, todos os seus
oponentes, independentemente de sua religião, nacionalidade ou o que
for. Aquilo foi apenas uma brincadeira e nem vale a pena as pessoas se
chatearem com isso, porque foram apenas negócios. Não é o que eu acho de
verdade.
Você está invicto há 21 lutas na carreira e há cinco no UFC, e
há muita expectativa sobre você. Algumas pessoas te apontam como o
próximo Fedor. O que você acha disso? Essas comparações te trazem mais
pressão ?
Não, eu não sinto pressão alguma por conta do meu cartel, eu nunca
penso nisso. E quanto ao Fedor, ele é um grande lutador e eu sempre
assisti às suas lutas. Eu tento me inspirar nele, na forma como ele se
comportava. Mas nós somos dois atletas diferentes, ele é um peso-pesado e
eu sou um peso-leve, e eu não estou tentando imitá-lo. Estou tentando
construir o meu próprio legado.
Qual é o seu segredo para estar invicto há tanto tempo?
Treino com ursos (risos). Falando sério, não há segredos na minha
preparação, mas eu sempre encaro cada luta como se fosse a última da
minha carreira. Eu entro nisso como um profissional e tenho meus amigos e
meu pai, que é meu treinador principal, sempre ao meu lado. Talvez essa
seja a razão, mas é claro que Deus também ajuda.
E quanto a esse objetivo de se tornar o primeiro russo campeão do UFC?
Eu nunca pensei muito nesses detalhes, se eu vou ser o primeiro ou o
segundo lutador russo. Eu tenho o meu próprio objetivo e estou tentando
alcançá-lo degrau por degrau. Este ano vai ser difícil para que eu
concretize esse objetivo, porque o Pettis vai enfrentar o Melendez só no
final do ano, mas em 2015 eu vou tentar me tornar campeão.
Se você vencer o Rafael no sábado, toparia esperar até o ano
que vem para enfrentar o campeão ou gostaria de lutar de novo ainda este
ano?
Eu não quero fazer previsões agora, porque eu estou encarando o Rafael
de uma forma muito séria. Ele é o meu adversário agora e o meu foco está
nele. Mas eu acho que não vou esperar mais um ano. Certamente vou lutar
antes.
Como você analisa o Rafael como lutador?
Ele é canhoto, é bom de trocação e tem mais experiência no MMA de uma
forma geral do que eu. Eu sei que ele é um lutador universal e pode
lutar bem no chão ou em pé. Sei que ele é um lutador duro e espero que
esse duelo dure os três rounds. Claro que vai ser ótimo se eu puder
terminar o duelo antes, mas eu acredito que será difícil de isso
acontecer. E é por isso que me preparei para lutar por 15 minutos.
O que você acha que vai acontecer no duelo entre Pettis e Melendez?
Eu vou torcer pelo Melendez nessa luta. Não tenho nada contra o Pettis,
mas tenho alguns amigos em comum com o Melendez, que dizem que ele é
bem bacana. Mas se o Pettis vencer, eu também gostaria de enfrentá-lo.
Conte-nos um pouco sobre como foi crescer treinando com seu pai.
Ele me treina desde que eu era criança. Foi meu professor e me
acompanha desde sempre. Ele supervisiona todo o processo da minha
preparação. Semanas antes da luta nós assistimos a vídeos do meu
adversário, analisamos o duelo. Ele é o cara que sempre treinou comigo. É
comum no meu país. Os lutadores ou treinadores sempre acabam sendo
seguidos pelos filhos. A diferença é que, quando você não treina com seu
pai, você vai para a academia, faz a sessão de sparring, ouve o que o
treinador tem a dizer e, depois disso, vai para casa. Ele me acompanha
em todos os momentos do dia, o que me faz ter mais e mais disciplina o
tempo todo.
Se você pudesse deixar uma mensagem ao Rafael, o que você diria?
Eu vi algumas de suas entrevistas e ele sempre falou com respeito, eu
só quero deixar claro que, da minha parte, não há desrespeito a ele como
pessoa ou lutador e muito menos ao jiu-jítsu. Eu peço que ele não se
apegue a isso e que se prepare para o duelo, pois vai ser uma guerra.
Não há desrespeito ao jiu-jítsu, só que eu vim do sambô e essa é a minha
escola. Na minha opinião, sambô é o melhor esporte do mundo, mas se
atletas do jiu-jítsu, boxe ou kickboxing não concordam com isso, eles
podem me desafiar e provar.
E é verdade que você é fã de futebol?
Desde criança eu sempre fui fã da Seleção Brasileira de futebol. Na
Copa do Mundo, se a Rússia não for bem, vou torcer pelo Brasil, mas meu
jogador favorito é o Cristiano Ronaldo. Sou fã do Liverpool (ING) e do
Real Madrid (ESP). Na Rússia eu torço pelo Anzhi, onde o Roberto Carlos
jogou.

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