sábado, 31 de maio de 2014

Família de Cara de Sapato lembra dos desafios do lutador até chegar ao TUF

Família amigos Cara de Sapato, TUF (Foto: Hévilla Wanderley / GloboEsporte.com/pb)

Um garoto hiperativo, que sofreu com síndrome do pânico e viu seu primeiro professor ser assassinado. Que precisou superar o medo dos pais diante do esporte. E que não aceitava menos do que o primeiro lugar. É este o resumo que os amigos e a mãe do lutador paraibano Antônio Carlos Júnior, apelidado de Cara de Sapato, fazem do atleta. Finalista da terceira edição do The Ultimate Fighter Brasil, Cara de Sapato vai contar com o apoio de pelo menos 30 pessoas próximas que saíram de João Pessoa para acompanhar a principal luta da carreira do jovem no octógono, que acontece neste sábado em São Paulo. Entre eles, está a mãe do finalista, Wilma Monteiro, que vai assistir pela primeira vez uma luta do filho.

Ela nunca conseguiu ver suas “batalhas” no octógono ao vivo, nem mesmo pela TV. Só via depois que as pessoas diziam que ele tinha vencido o duelo. Preocupado com a reação da mãe, o lutador também não permitia a presença dela nos locais de luta. Mas desta vez é “diferente”, como a própria Wilma afirmou, enquanto orgulhosamente falava sobre a carreira e a personalidade do filho.

O outro lado: fotos que mostram a vida do lutador fora do octógono

Antes da viagem, e junto com os amigos mais chegados, que se dividiram entre o sofá, o chão e algumas cadeiras espalhadas pela sala, a reportagem visitou a mãe do lutador, que relembrou historias de um garoto “traquino”, com espírito de campeão e que sempre se esforçou para ser o número 1. E antes de descobrir sua grande paixão pelo jiu-jítsu, o paraibano ainda tentou competir em provas de hipismo, judô, taekwondo, natação e futebol.

- Quando começava um esporte, ele já entrava de cabeça e sempre vinha com o discurso de que ia ser campeão - relembra a mãe, que apesar dos muitos apelidos do filho permanece chamando-o pelo primeiro deles, Juninho.

Desde pequeno, o lutador sempre teve alguns problemas de hiperatividade. Por causa disto, ele não conseguia prestar atenção na aula e nem deixava os demais em paz. A mãe confessou que perdeu a conta das vezes em que foi chamada no colégio do filho e “convidada” a tirar o garoto da escola.

- Ele só parava quando dormia. Era eu e a babá para cuidar dele e a gente não conseguia. Uma vez eu saí de casa e ele ficou com a minha filha Caroline e com a babá. Pouco tempo depois, Caroline me ligou pedindo que eu voltasse para casa, porque Juninho estava com um cinturão batendo nas duas. E isto ele tinha apenas três anos - contou.

Durante quatro anos da sua vida, ele se dedicou à natação. Acordava cedo e ia para o colégio às 5h para praticar antes da aula. À tarde, treinava novamente. Chegou a disputar provas e ainda ficou em terceiro na Copa dos Campeões, na Bahia. Mas tudo mudou em meados de 2004, quando ele ficou doente e passou um mês inteiro de cama.

Na volta aos treinamentos, ele sentiu dificuldades para acompanhar o ritmo dos outros alunos, ao mesmo tempo, não aceitava ficar fora dos primeiros lugares. Frustrado com o seu desempenho, ele resolveu desistir da natação.

Quando deixou o esporte, um amigo o levou para o jiu-jítsu. A mãe confessou que foi paixão desde a primeira aula. Mas Wilma não levou a sério, porque já vira o filho se apaixonar outras vezes por outros esportes e depois de um tempo abandoná-los. E, para falar a verdade, ela torcia por isto.

- Como todos os outros esportes, ele costumava se apaixonar e depois desistir. Inclusive, eu e o pai dele estávamos rezando por isso. Porque naquela época o jiu-jítsu era muito marginalizado, achávamos que era coisa de bandido. Mesmo assim, ele já dizia que iria para o MMA. Aí que não queríamos mesmo. Entretanto, ele começou a se acalmar mais e foi descarregando as energias nas lutas - confessou Wilma.

Início do sonho

Embora a família do atleta visse o jiu-jítsu com maus olhos, Cara de Sapato nunca desistiu de ser lutador. Ele nunca faltava às aulas e nem perdia o foco. Outro fator importante do atleta, segundo o amigo e empresário Maikol Leal, era a autoconfiança. Os dois se conheceram há nove anos no tatame, quando passaram a treinar juntos.

- Ele sempre quis isso para a vida dele. Era o único que dizia que queria ser lutador e naquela época já se destacava. Quando íamos para os campeonatos, todo mundo ficava muito nervoso. Mas ele era o oposto, ficava confortável. Era o show dele. E isto se consegue com foco, treino e autoconfiança – explicou.

Além de enumerar as qualidades do amigo, Maikol ainda revelou que o lutador é péssimo perdedor, do tipo que briga até em jogo de dominó. Mas que isto não fazia dele menos querido. Pelo contrário, os amigos e a família estão satisfeitos e orgulhos do desempenho do finalista, principalmente para quem presenciou todas as dificuldades que ele passou.

Família amigos Cara de Sapato, TUF (Foto: Hévilla Wanderley / GloboEsporte.com/pb)Amigos de Cara de Sapato contam histórias sobre o começo da carreira do lutador na Paraíba (Foto: Hévilla Wanderley / GloboEsporte.com/pb)

- Tem um pouquinho da gente que treinou e que cresceu junto com ele. Não lutamos um contra o outro porque éramos da mesma equipe, mas já treinamos juntos. Apanhei muito dele, e acredito que isto tenha ajudado também - brincou Maikol.

Superando os medos

Tanto a mãe, como os amigos, destacaram que uma das principais qualidades do atleta foi a capacidade de enfrentar os seus próprios medos. Quando criança, Cara de sapato chegou a desenvolver a síndrome do pânico, mas esta só se agravou em 2011, após a perda do amigo e primeiro professor, Rufino Gomes de Araújo, mais conhecido por "Morceguinho". Ele foi assassinado em João Pessoa, quando saía de um treinamento.

- Foi terrível. Ele ficava dizendo que ia morrer. Na época, comprou um aparelho de pressão e ficava medindo de dois em dois minutos. Ele também esmurrava as portas e dizia que não aguentava mais. Eu orava com ele e isto o fazia se acalmar - declara a mãe.

Em meio à crise, surgiu a oportunidade de competir no torneio de Abu Dhabi. Por causa da síndrome, ele passou a ter medo de avião. A mãe o aconselhou a não disputar a competição, até porque ele não tinha treinado. Mas não foi bem assim que aconteceu:

- Um dia ligaram para ele e disseram que a passagem estava comprada para o dia seguinte. Juninho ficou desesperado. Fomos para o quarto e oramos muito. No outro dia, ele acordou e disse que ia, mesmo não estando curado. Fiquei apavorada. No final, ele foi e conseguiu ficar em terceiro lugar. Ele sempre foi de enfrentar os medos. Sabe como ele perdeu o medo de avião? Pulando de pára-quedas - declarou.

Depois do torneio de Abu Dhabi, ele resolveu se arriscar no MMA e teve o apoio do veterano Junior Cigano, que “adotou” o paraibano e o vem apoiando nesta nova fase. Tanto que durante dois meses em que esteve morando no Rio de Janeiro, Juninho morou com Cigano.

A irmã do finalista, Caroline Oliveira, definiu o veterano como um cara de uma personalidade tranquila, diferente do que ela mesma pensava de lutadores de MMA.

- Eu tenho muito orgulho do meu irmão, mas este não é o meu universo. Confesso que eu tinha certo preconceito. Mas, quando conheci o Cigano, eu o achei muito doce e perdi esta concepção de que este esporte era feito por pessoas violentas, porque ele é o tipo de cara que beija e abraça meu irmão, sem medo de comentários maldosos - afirmou Caroline.

Com apenas 24 anos, o paraibano está na final dos pesados contra Vitor Miranda. A luta acontece no próximo sábado, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Se vencer, Juninho ganha a assinatura de um contrato com o UFC e entra para a elite dos lutadores de MMA.

Sem comentários:

Enviar um comentário