Na última vez em que os caminhos de Miesha Tate e Ronda Rousey se cruzaram dentro do octógono, em março de 2012, as coisas não saíram da forma como “Cupcake” esperava. Além de perder o cinturão do Strikeforce para a ex-campeã olímpica, Miesha, que tinha passado boa parte do tempo anterior ao duelo tentando desqualificar a adversária, acabou vendo a arquirrival ganhar fama instantânea. Pouco mais tarde, Ronda se transformaria na primeira mulher contratada pela maior organização de MMA do mundo - o UFC. O tempo passou, hoje ambas as lutadoras estão na organização e, depois de atuarem como treinadoras do TUF 18, agora Tate e Rousey se enfrentam no dia 28 de dezembro na disputa pelo cinturão peso-leve feminino, no coevento principal do UFC 168, em Las Vegas. Agora na pele de desafiante ao título, Miesha não quer apenas vencer o duelo, ela quer fazer isso de uma forma chocante para garantir o seu espaço e prestígio na organização. A tarefa não é das mais fáceis, pois Ronda está invicta há sete lutas na carreira e venceu todas elas por chave de braço. Tate, porém, acredita que está mais madura e que chegou o seu momento:
- Eu estou tão ansiosa para esse duelo que só quero que chegue o dia
depois da luta. Eu estou esperando tanto por esse duelo, só quero
sentir aquele apoio do meu time quando me tornar campeã. Eu também me
sinto muito animada, porque nunca me senti tão bem em um camp, nunca
senti como se fosse assim tão completo e no tempo certo. Por mais que eu
tenha tentado fazer isso na primeira luta contra a Ronda, eu acho que
acabou funcionando melhor dessa forma, porque eu vou vencer essa luta e
trata-se de um duelo muito maior, então vai ser maravilhoso. Eu estou
preparada para fazer qualquer coisa que seja necessária para vencer a
Ronda. Eu treinei de tudo, claro que eu tenho uma experiência de
wrestling e acredito que eu tenha um jogo de chão muito forte que é
muito subestimado. Também tentei melhorar algumas coisas que eu achava
que tinha que melhorar, mas eu realmente só quero socá-la. E eu adoraria
conseguir o meu primeiro nocaute limpo com as minhas mãos, com as
pessoas assistindo pela TV e pelo pay-per-view do UFC 168, que vai ser
imenso. Isso seria maravilhoso para mim, eu adoraria vê-la trocar
comigo, mas não acho que ela vá fazer isso. Então vamos ver o que
acontece - disse a desafiante ao título, afirmando que demorou, mas
aprendeu a lidar com as diferenças fora do octógono entre ela e Rousey:
- Eu nunca vou chamá-la para tomar um café, para mim ela vai ser
somente um corpo no caminho do meu título. E é assim que eu quero manter
as coisas. Quero o nocaute porque eu quero provar que sou muito melhor
do que ela e isso é um objetivo pessoal que não está necessariamente
relacionado ao fato de quem ela é ou de que somos inimigas.
As declarações de Miesha ocorreram durante um treino aberto na academia
do UFC , em Las Vegas, nesta sexta-feira. A lutadora chegou sorridente e
aparentando bastante tranquilidade. Simpática, ela treinou por cerca de
20 minutos em um ringue de boxe e depois atendeu os jornalistas.
(acompanhe no vídeo ao lado)
Confira os principais destaques da entrevista, divididos por tópicos:
Treinos para o duelo contra Ronda
"É fenomenal. Decidi treinar aqui em Vegas por causa dos treinadores.
Trabalhar com o Jimmy Gifford foi algo que nem sei explicar. Ele tem me
ajudado a melhorar imensamente a minha trocação. Eu me sinto tão
confiante e tão melhor com as minhas mãos. Também treinei com o Robbert
Follis na Xtreme Couture, grande treinador e estrategista de MMA. Além
disso, tem o Ricky Lundell, fenomenal também, com um excelente jogo de
chão. E por último, mas não menos importante, Brian Caraway, que tem
estado comigo durante toda a minha carreira. Ele me conhece melhor do
que ninguém, então eu também tenho aquele apoio emocional. Me sinto como
se finalmente tivesse a mistura perfeita, um corpo de treinadores
sólido. Eu acho que o melhor aspecto desse treino foi trazer
especialistas em judô para fazerem parte do meu camp. Juntando isso com o
fato de eu ter um time tão forte ao meu redor, eu sinto que todos eles
me construíram e me fizeram me sentir muito bem com esse treinamento.
Eles levaram em consideração tudo o que eu queria. É tão importante para
mim poder vencer essa luta e eu acho que esse se tornou um objetivo
importante para eles também. Antes, quando eu trabalhava com outros
treinadores, eu tinha a sensação de que eles não ligavam tanto quanto eu
e isso é um saco. Essa é a maior oportunidade da minha vida e cada um
dos meus treinadores falam comigo todos os dias por mensagem de texto,
me ligam, eles querem ter certeza de que estou me sentindo bem, que
estou bem e eles se importam. E esse sentimento é maravilhoso".
Preparação emocional para a revanche
"Eu me sinto muito bem, me sinto completamente em paz. Estou animada,
sinto como se as minhas emoções estivessem no lugar certo, mentalmente
estável, emocionalmente estável. Nunca me senti tão preparada. Se
tivesse que escolher um tempo da minha vida para essa luta acontecer
seria agora. Eu não me sinto com as emoções à flor da pele, só tento
levar. Ela estava fazendo uma guerra mental da primeira vez que nós
lutamos e eu não. Pode parecer uma carta na manga, mas é algo que eu
aprendi da forma mais difícil. Eu não olho para aquela luta de outro
jeito que não seja uma experiência de aprendizado. Eu aprendi muito não
só como lutadora, como ser mais técnica, mas também como crescer e
amadurecer como pessoa. Todos aqueles sentimentos de animosidade foram
uma escolha minha e agora eu escolho felicidade. Estou feliz e onde eu
queria estar".
Guerra mental contra Ronda
"Eu tenho que dar o crédito a ela, e Ronda definitivamente me ensinou
algo nessa área. Eu não uso isso (a guerra mental) da mesma forma que
ela, mas eu desenvolvi as habilidades necessárias para lidar com isso e
foi exatamente o que eu fiz quando tive que passar seis semanas com ela
dentro do TUF. Ronda foi muito desagradável e terrível de se lidar e,
sabe, tem que haver um jeito de se lidar com isso e eu aprendi. Precisa
ser diferente da primeira vez, quando eu era a pessoa que estava
irritada o tempo todo enquanto Ronda ria de mim porque eu estava tão
brava. Mas eu superei. Eu não posso jogar a culpa em ninguém mas em mim
mesma por perder aquela luta. Eu não posso apontar o dedo na cara dela e
dizer que ela não conquistou as coisas que diz, porque ela conquistou.
Então ela tem meu respeito nessa área, mas para mim não é mais sobre
ela. Ronda tem o meu respeito como atleta e como lutadora e é isso".
"Eu aprendi isso muito antes da primeira luta. Eu não sabia naquele
tempo, mas depois, Ronda disse que ela não era fake e que o time dela
era o real e etc. Ela tem sido emocionalmente instável em tantos
momentos. Eu costumava ser a irritada. Logo após aquela luta pelo
título, eu a vi em eventos do Strikeforce e Ronda viria ao meu encontro
de propósito dizendo coisas do tipo 'E aí amiga, como você está? Como
você está Brian? E aí gente?'. Ela ia tentar se aproximar da gente e eu
pensava: 'Ai meu Deus, eu odeio essa garota!'. Ela costumava ser a
pessoa mais falsa de todas, e aí ela entra no TUF e o que aconteceu é
que ela não era mais capaz de me manipular do jeito que ela conseguia
antes. Porque antes ela iria se aproximar de mim com o jeito falso de
ser legal e eu ficaria muito brava, como se o sol tivesse ido embora e,
de repente, o céu tivesse ficado negro assim que ela pisasse no mesmo
espaço que eu. E aí, quando eu decidi que eu não ía mais deixar ela
fazer isso comigo, então parece que as coisas começaram a funcionar ao
contrário. Mas eu não fiz com essa intenção, e sim porque eu queria
tirar aquele peso dos meus ombros. Eu não queria ser daquele jeito, não é
divertido ser miserável, e Ronda estava transformando o esporte em algo
que eu não amava mais. Então eu tive que mudar a minha mente e o que
aconteceu foi que as regras mudaram. Então ela não podia chegar perto de
mim tentando ser legal, porque eu era legal com ela. Se ela tentasse
ser legal, nós nos tornaríamos amigas, certo (risos)? Então não foi um
esforço para irritá-la, foi só eu tentando ser real, não do jeito que
costumava ser. E a Ronda começou a ser aquela irritada 100% do tempo,
porque a guerra mental dela não estava mais funcionando. E foi isso que
vocês viram no TUF".
"É uma lição para a vida toda. Não me ajudou só com essa situação com a
Ronda, mas me ajudou a amadurecer, me sinto muito equilibrada. Quando
você não tem equilíbrio emocional, você se torna uma presa fácil".
Experiência no TUF 18
"Foi bem difícil no começo, mas o TUF foi uma bênção dos céus, porque
me ajudou a aprender a controlar minhas emoções e a não cair nesse jogo
dela. E isso a frustrou muito e foi muito positivo para mim e muito
negativo para ela. Eu estava feliz com a minha performance e com o meu
time. Nós fomos humildes, ninguém estava falando besteira, Chris
Holdsworth não estava falando besteira, não era a Julianna Peña quem
estava dizendo 'Oh, Shayna não merece respirar o mesmo ar que eu'.
Aquilo foi realmente muito longe, foi um insulto. Nós sofremos um pouco
de bullying, acho que dá para dizer isso, e foi um prêmio ver que havia
luz no fim do túnel e que você não precisa ser o cara mau para vencer.
Os caras bons não perdem o tempo todo".
"Eu estou aberta a isso, mas eu tenho a minha outra metade que é o
Brian e acho que ele precisa se sentir confortável onde estiver
treinando também. Mas eu posso dizer que ele realmente gostou daqui,
então estamos abertos à ideia de nos mudarmos para cá".
Diferença da revanche para o primeiro duelo entre as duas
"Sei exatamente onde estou entrando agora. Eu já estive lá e já senti a
força dela, o jeito que ela faz a chave de braço, que é um pouco
diferente da tradicional. Eu não estava a par dessas coisas no começo.
Eu cometi meus erros físicos ali no octógono porque eu estava fora do
meu controle emocional. Então o plano de jogo era não entrar no judô, e
foi exatamente o que eu fiz. Senti que o round estava perto de terminar,
ela estava respirando pesado e eu pensei: 'Ela está tão cansada que eu
vou deixar a minha marca no fim desse round e vou fazê-la não querer
voltar para o segundo round', e aí acabei metendo os pés pelas mãos".
"Eu acho que subestimei a Ronda um pouco e ela é melhor do que eu achei
quando a enfrentei da primeira vez. Eu estava muito ocupada tentando
descredenciá-la, dizendo que ela não merecia a chance ao título e
explicando os motivos. Eu não quis dizer que ela não tinha as
habilidades para fazer isso. Eu só acho que tinha uma ordem a ser
seguida e tinham meninas com mais tempo e trabalho no esporte naquela
época, as quais eu achava que mereciam a chance ao título antes da
Ronda. Ela surgiu meio que do nada e passou na frente dessas pessoas.
Não importa, pode existir uma lutadora amadora lá fora que pode me
vencer ou vencer a Ronda hoje, mas não acho que ela deveria passar por
cima de todas as meninas que estão no UFC. Ela tem que provar que merece
e Ronda não tinha feito isso até então".
Opinião sobre a estratégia de Ronda para o próximo duelo
"Eu não sei. Se você olhar para todas as lutas dela pode pensar que sim
(que ela vai vir com a mesma estratégia) , mas eu acho que eu tenho que
estar preparada para tudo e quando ela não puder fazer o que quer, vai
ter que usar o resto das suas habilidades. Então vou tentar fazer o que
puder para deixar a luta onde eu quero".
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